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A ética na investigação em educação

Os desenvolvimentos científicos e tecnológicos fizeram com que grande parte dos investigadores e das instituições de ensino se preocupassem com questões éticas. Face a essa preocupação, surgiram novos campos de trabalhos interdisciplinares (e.g. Bioética), onde convergem competências originárias de diversas áreas do saber (Almeida, s.d.).

Neste sentido, procurou-se identificar regras de comportamento e fundamentos éticos a serem utilizados pelos investigadores (cf. “Saber mais” no final desta publicação).

Segundo Gauthier (1987, apud Fiorentini & Lorenzato, 2009) a ética envolve todo o processo investigativo, ou seja, não se limita à relação entre o investigador e os indivíduos ou os intervenientes da pesquisa. Engloba a escolha do tema, a amostra, os instrumentos de recolha de dados, exigindo do investigador a verdade e o respeito por aqueles que nele confiam. A análise de informações e as conclusões a que chega, carecem igualmente, de cuidado ético.

Neste contexto, Punch (1994) afirma que todos os investigadores devem preocupar-se com todos os indivíduos que participam nas suas pesquisas. Assim, devem prevenir os indivíduos de eventuais danos, protegendo o seu anonimato e privacidade, não os enganar e obter sempre o seu consentimento para tudo aquilo que pretendam realizar (referido por Savenye & Robinson, 2006).

A publicação da pesquisa também carece de alguns cuidados, uma vez possuem implicações sociais, quer sejam relativas à omissão quanto à divulgação de resultados (Fiorentini & Lorenzato, 2009).

Desta feita, a dimensão ética está inerente em toda e qualquer investigação e “refere-se às relações de boa convivência, respeito aos direitos do outro e ao bem estar de todos” (ibidem, p. 194).

O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (DPLP), 2017), define-nos a palavra “ética” como “parte da Filosofia que estuda os comportamentos da moral; conjunto de regras de conduta”. Contudo, alguns autores distinguem ética de moral. A ética incide e reflete sobre os valores dos indivíduos face a problemas e situações críticas da vida (o que é bom fazer, que atitudes tomar em relação aos outros) enquanto que a moral envolve valores e costumes produzidos socialmente por um grupo social (o que é permitido e o que deve ser feito) (Fiorentini & Lorenzato, 2009).

A reflexão ética centra-se no respeito à dignidade humana, no respeito mútuo, no diálogo, na solidariedade, na justiça social, estabelecendo interrogações e análises sobre a ação humana (ibidem).

Reportando-me mais concretamente à investigação, os questionamentos éticos envolvem diversos fatores, dos quais destaco:

  1. O respeito e o bem-estar dos participantes;

  2. Os direitos dos entrevistados;

  3. A preservação da identidade das pessoas envolvidas;

  4. A fidedignidade das informações;

  5. O uso e abuso das informações e citações de outros autores; e

  6. As implicações sociais e políticas de pesquisa (Fiorentini & Lorenzato, 2009).

Todavia, na ótica de Portelli (1997, apud Fiorentini & Lorenzato, 2009) os princípios éticos da investigação englobam uma ética mais ampla, designada de humano-política. Esta refere-se às responsabilidades individuais, civis, coletivas e políticas das relações humanas.

Princípios éticos na investigação educacional

  1. O investigador deve informar os intervenientes sobre as finalidades da pesquisa, os procedimentos de recolha de dados e como estes serão utilizados/divulgados;

  2. O consentimento dos intervenientes pode ser estabelecido formalmente por meio de um contrato assinado por ambas as partes. Esse contrato deve descrever os objetivos e finalidades da pesquisa, o direito à realização da pesquisa de campo e a utilização de imagens e depoimentos;

  3. O investigador deve informar os participantes sempre que realizar alguma mudança na pesquisa, justificando essas alterações e a conveniência de rever ou complementar o contrato inicial;

  4. Os sujeitos da investigação têm o direito de interromperem a sua participação sempre que se sentirem constrangidos ou notarem alguma alteração que não concordem;

  5. A integridade física e a imagem pública dos informantes deve ser salvaguardada sempre que o investigador relatar os resultados da sua pesquisa. Para isso pode omitir o nome dos participantes e/ou utilizar pseudónimos escolhidos por si ou pelos próprios informantes;

  6. O investigador deve disponibilizar o trabalho final para obter aprovação e autorização dos informantes antes de o publicar;

  7. A intervenção do pesquisador no ambiente investigado deve ser mínima, a não ser que seja esse o objetivo (e.g. abordagem crítico-dialética; investigação-ação

  8. O investigador deve ser transparente e honesto com os sujeitos da investigação. Assim, deve informar os participantes que está a gravar e/ou filmar a entrevista;

  9. O investigador deve conduzir as entrevistas de forma adequada, isto é, não induzir as respostas do entrevistado com questões muito fechadas, evitando manifestar-se com espanto, aprovação ou reprovação perante as respostas do participante;

  10. O investigador deve comprometer-se com a escola ou participantes que cooperaram no seu estudo. Deste modo, estes devem ser os primeiros a receber os resultados da pesquisa da qual fizeram parte através de uma palestra ou seminário, por exemplo;

  11. O investigador não deve manipular dados de pesquisa, evitando fazer inferências indevidas ou forjar conclusões pouco prováveis, servindo-se de convencimentos não lícitos; e

  12. O investigador não deve se apropriar indevidamente de referências bibliográficas ou efetuar recortes descontextualizados de citações de autores, desvirtuando o sentido atribuído a eles. Deve então ter especial atenção sempre que parafraseia ou recorta alguma citação sem ter em conta a integridade de uma ideia, de uma informação ou texto (Fiorentini & Lorenzato, 2009).

Referências

Almeida, J. B. (s.d.). Sobre a ética na investigação científica e tecnológica. [Post em blog]. Disponível em https://jborgesalmeida.wordpress.com/cerebro-do-planeta/sobre-a-etica-na-investigacao-cientifica-e-tecnologica/.

DPLP. Ética. Consultado a 06 de dezembro, 2017 em https://www.priberam.pt/dlpo/%C3%A9tica.

Fiorenti, D., & Lorenzato, S. (2009). Ética na pesquisa educacional: Implicações para a educação matemática. In D. Fiorentini & S. Lorenzato (Eds.), Investigação em educação matemática: Percursos teóricos e metodológicos. Campinas: Autores Associados. Disponível em https://www.fe.unicamp.br/drupal/sites/www.fe.unicamp.br/files/pf/subportais/pesquisa/etica-na-pesquisa/etica_na_pesquisa_educacional.pdf.

Savenye, W. S., & Robinson, R. S. (2006). Qualitative research of issues and methods. In. D. Jonassen (Ed.), Handbook of research for educational communications and technology. New York: McMillan.

Saber mais

Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. (2014). Instrumento de regulação ético-deontológica: Carta ética. Disponível em http://www.esepf.pt/a_centros/carta_etica.pdf.

Universidade de Lisboa. (s.d.). Código de conduta e de boas práticas. Disponível em http://www.fmh.utl.pt/pt/doc/alunos/direitosdeveres/969-codigo-de-conduta-e-boas-praticas-da-ulisboa/file.

Universidade de Lisboa, Instituo de Educação. (2014). Doutoramento em educação: Questões éticas na investigação em educação. [pdf]. Disponível em https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:WcIxh1oM7y4J:https://plataforma.elearning.ulisboa.pt/mod/resource/view.php%3Fid%3D188907+&cd=1&hl=pt-PT&ct=clnk&gl=pt.

Esta publicação deve ser referenciada assim:

Pereira, F. (2017, dezembro 7). A ética na investigação em educação. [Post em blog]. Disponível em https://fabriciopereiraieul.wixsite.com/omeuapa/single-post/2017/12/07/A-%C3%A9tica-na-investiga%C3%A7%C3%A3o-em-educa%C3%A7%C3%A3o.

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