Ciência, conhecimento e tipos de conhecimento
A palavra “ciência” provém do latim scientia, e significa conhecimento, erudição, doutrina ou prática (Arnal et al., 1992, mencionado por Almeida & Freire, 2003). Atualmente, pode ser definida como um conjunto de conhecimentos organizados sobre a realidade através do método científico (Bravo, 1985, referido por Almeida & Freire, 2003). Ferrari (1974) define-a como “todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação (citado por Marconi & Lakatos, 2003, p. 80).
As ciências possuem três características, a saber (Marconi & Lakatos, 2003, p. 81):
Objetivo ou finalidade: cuidado em discernir o aspeto comum ou as leis gerais que norteiam certos eventos;
Função: “aperfeiçoamento, através do crescente acervo de conhecimento, da relação do homem com o seu mundo”;
Objeto, que se subdivide em:
3.1. Material: o que se pretende analisar, interpretar, estudar ou verificar, de modo geral;
3.2. Formal: o foco especial, “em face das diversas ciências que possuem o mesmo objeto material”.
Uma vez que “ciência” significa “conhecimento”, convém compreendermos em que é que consiste este vocábulo. O termo “conhecimento” pode ser definido como um combinado de informações adquiridas por intermédio da aprendizagem (a posteriori) ou da experiência, ou ainda através da introspeção (a priori) (Conceito, 2010).
Contudo, esta definição é incapaz de explicitar a diversidade de conhecimentos existentes e suas particularidades. O conhecimento subdivide-se em diversos tipos, nomeadamente conhecimento popular (ou comum), científico, filosófico, artístico e teológico (religioso) (Marconi & Lakatos, 2003; Lukas & Santiago, 2004). Embora tenha referido diversos tipos de conhecimento irei dar especial destaque ao conhecimento popular e ao científico.
O conhecimento popular, por vezes designando de senso comum, traduz-se num conhecimento transmitido de geração em geração por meio da educação informal, assente na imitação e experiência pessoal (empírico), ou seja, é o modo corriqueiro e espontâneo de conhecer, adquirido no trato direto com as coisas e com os seres humanos utilizado em larga escala no quotidiano dos indivíduos (Lakatos & Marconi, 2003).
O conhecimento científico é transmitido por meio de treinamento adequado, obtido racionalmente, mediante procedimentos rigorosos (método científico). Tem como objetivo “explicar “por que” e “como” os fenômenos ocorrem, na tentativa de evidenciar os fatos que estão correlacionados” numa perspetiva mais ampla do que a relacionada com um mero facto (ibidem, p. 75).
Assim, fica patente que uma das características que diferencia o conhecimento vulgar do científico é a forma como vamos adquirir esse conhecimento, metodicamente, através da aplicação de um método (Lukas & Santiago, 2004).
A tabela abaixo sintetiza os vários métodos de conhecimento e as suas fontes.
Tabela 1: Métodos de conhecimento e suas fontes (Aliaga, 2000, em Lukas & Santiago, 2004, p. 16).
Assim sendo, o conhecimento comum, segundo Ander-Egg (1978), pode ser caracterizado como:
Superficial: guia-se pelas aparências, com aquilo que é facilmente comprovável, através daquilo que vemos, sentimos, ouvimos ou que é considerado correto pela generalidade das pessoas;
Sensitivo: assente em estados de animo, emoções e vivências;
Subjetivo: organizado pelo próprio sujeito, tanto pela sua experiência como pela vivenciada pelos outros;
Assistemático: as experiências não são organizadas com a finalidade de sistematizar as ideias, nem a forma como foram adquiridas, nem se preocupa com a sua devida validação; e
Acrítico: “verdadeiros ou não, a pretensão de que esses conhecimentos o sejam não se manifesta sempre de forma crítica” (mencionado por Lakatos & Marconi, 2003, p. 77).
Enquanto que o conhecimento científico, pode ser caracterizado como (Almeida & Freire, 2003; Lukas & Santiago, 2004):
Objetivo: descreve a realidade tal como ela é ou poderia ser (mesmo que falível) e não como gostaríamos que fosse;
Empírico: baseado na experiência, nos fenómenos e nos factos;
Racional: assente na lógica e na razão como meio para alcançar os seus resultados;
Replicável: os resultados devem ser repetidos ou a sua verificação pode ser realizada por outros investigadores noutras circunstâncias;
Sistemático: conhecimento organizado, estruturado, coerente, interrelacionado e incorporado num sistema;
Metódico: é resultado de uma metodologia rigorosa;
Comunicável: expressado de forma clara, com uma linguagem precisa e aceite pela comunidade científica;
Analítico: vai além das aparências, procura a complexidade e a amplitude dos fenómenos;
Factual: a origem das informações e resposta são os factos ou fenómenos externos ao investigador;
Cumulativo: conhecimento que é construído, ensaiado e estruturado através de conhecimentos científicos anteriores.
Tabela 2: Síntese das características dos quatro tipos de conhecimento (Trujillo, 1974, em Marconi & Lakatos, 2003, pp. 77-78 (adaptado).
Referências
Almeida, L. S., & Freire, T. (2003). Metodologia da investigação em psicologia e educação. Braga: Psiquilibrios.
Conceito. (2010). Conhecimento. Consultado a 25 de novembro, 2017 em https://conceito.de/conhecimento.
Lukas, J. F., & Santiago, K. (2004). Evaluación educativa. Madrid: Alianza Editorial.
Marconi, M. A., & Lakatos, E. V. (2003). Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Editora Atlas.
Esta publicação deve ser referenciada assim:
Pereira, F. (2017, novembro 25). Ciência, conhecimento e tipos de conhecimento. [Post em blog]. Disponível em https://fabriciopereiraieul.wixsite.com/omeuapa/single-post/2017/11/25/Ci%C3%AAncia-conhecimento-e-tipos-de-conhecimento.