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A investigação científica e os modelos de investigação

Antes de me debruçar sobre a “investigação científica” convém compreendermos em que é que consiste a palavra investigação.

Muitos são as conceções associadas à palavra “investigação”, no entanto, é consensual que investigar é solucionar problemas, aprofundar conceitos e construir conhecimento. Podemos ainda a definir como um “procedimento reflexivo, sistemático, controlado e crítico que permite descobrir novos factos ou dados, relações ou leis em qualquer campo do conhecimento” (Ander-Egg, 1978, citado por Marconi & Lakatos, 2003, p.155). Assim, investigar é uma atitude prática de permanente procura da verdade ou da realidade, sendo uma forma de validar ou refutar o conhecimento já existente.

A expressão “investigação é de certa forma, redundante. Uma investigação só poderá ser científica, caso contrário não é investigação. Esta expressão pretende apenas destacar as exigências do método científico, isto é, os métodos, passos ou meios que definem a metodologia de investigação (Alferes, 1997, apud Almeida & Freire, 2003).

Mas em que é que consiste o método científico? São muitos os autores que atribuem as mesmas características do conhecimento científico ao denominado método científico, uma vez que o conceito de ciência está intimamente ligado ao de método científico. Este método (cf. as referências "Saber mais") pode ser compreendido como um processos sistemático que engloba um conjunto de passos inter-relacionados que visam atingir o conhecimento científico (cf. a publicação "Ciência, conhecimento e tipos de conhecimento") (Lukas & Santiago, 2004).

Pina, et al. (1995, mencionado por Lukas & Santiago, 2004), compilaram um conjunto de propostas que constam de diversos manuais de metodologia, não se limitando somente ao método hipotético-dedutivo experimental, pelo que apresentam um modelo disposto em quatro etapas:

  1. Preliminares da investigação: apresenta atividades tais como identificação de uma área de estudo; procura de informação relevante; seleção de uma tema de estudo e formulação de problema de investigação; o objetivo desta fase é avaliar uma situação de uma área de estudo, considerando os recursos disponíveis e as fontes de informação;

  2. Planificação teórica: é o projeto de investigação propriamente dito, que poderá abarcar aspetos como a formulação de objetivos e/ou hipóteses, a seleção ou construção de instrumento de recolha de dados, a seleção de partícipes e eleição do método;

  3. Trabalho prático: significa colocar em prática o que foi desenhado ou planificado na fase anterior (trabalho de campo);

  4. Análise e resultados: é a fase de análise dos dados e interpretação dos resultados e formulação das conclusões.

Figura 1: O processo de conhecimento científico (Tomado de Cea, 1996, em Lukas & Santiago, 2004, p. 19).

Durante uma investigação, o investigador guia-se por um conjunto de objetivos operacionais. Esses objetivos (apresentados de forma mais descritiva ou mais explicativa) irão depender da natureza dos fenómenos e das variáveis em presença, bem como das condições de maior ou menor controle em que a investigação vai ocorrer (Almeida & Freire, 2003).

O objetivo mais descritivo envolve a “inventariação” das características num grupo ou dos valores que pode assumir uma variável (e.g. descrição de grupos populacionais, os recenseamentos, os levantamentos ou os estudos epidemiológicos). O objetivo que ultrapassa o nível descritivo, pode situar-se na predisposição das categorias ou valores dos fenómenos (e.g. o investigador procura calcular a probabilidade ou grau de ocorrência dos fenómenos ou variáveis através do estudo da sua ocorrência em certas condições ou mediante os valores que uma outra variável associada venha a assumir) (ibidem).

Por fim, o objetivo pode situar-se na explicação das relações de casualidade entre os fenómenos. Assim, determina-se o sentido e a intensidade de uma relação de fenómenos através da comparação (no qual dois grupos incertos são sujeitos a determinada condição experimental podem ser comparados, no final, nas suas respostas a uma determinada variável) ou da correlação (múltiplos modelos estruturais causais hoje disponíveis proporcionam a realização de conclusões de casualidade, tomando as interdependências e as influências de diversas variáveis em estudos não estritamente experimentais) (Almeida & Freire, 2003).

Modelos de investigação

Múltiplos são os critérios que podem ser utilizados para descrever ou produzir taxonomias das investigações em Psicologia e Educação.

No que toca à sua finalidade, podem ser mais movidas pela descoberta e fixação de leis gerais, remetendo-nos para uma investigação básica ou investigação pura; ou movidas pela resolução de problemas concretos e particulares, reportando-nos para uma investigação aplicada ou prática; ou ainda, movidas de forma a conciliar os modos supracitados, referimo-nos a uma “investigação-ação” (Almeida & Freire, 2003).

No que concerne à profundidade do estudo, as investigações podem ser dispostas num continuum, cujos extremos seriam as exploratórias e as experimentais, ficando num nível intermédio as descritivas e as correlacionais (ibidem).

No que à metodologia diz respeito, as investigações podem ser classificadas de várias formas. Podem ser quantitativas ou qualitativas; laboratoriais ou de campo; podem ser mais estudos de carácter transversal ou longitudinal; pode ainda ser uma investigação nomotética, ou seja, investigação fundamentalmente dirigida pela procura de leis gerais (o mais habitual); e investigação ideográfica, isto é, investigação centrada na particularidade ou singularidade (Almeida & Freire, 2003).

De grosso modo, existem duas perspetivas básicas que podem caracterizar as investigações psicológicas e educativas, sendo estas (ibidem):

  1. Investigação empírico-analítica: muitas vezes associada com expressões de investigação quantitativa ou positivista e experimental. Tem como objetivo explicar, predizer e controlar os fenómenos. A investigação procura aqui as regularidades e leis explicativas mediante os esforços colocados na objetividade dos procedimentos e na quantificação das medidas.

  2. Investigação humanista-interpretativa: normalmente mais associada a expressões como investigação qualitativa e naturalista. Atenta para os significados e intenções das ações humanas.

De entre os métodos qualitativos destaca-se a análise de conteúdo, onde a sua aplicação ocorre com dados provenientes de entrevistas, documentos ou outro tipo de registos. A análise de conteúdo poderá ser de pendor mais quantitativo ou qualitativo (Almeida & Freire, 2003).

Tabela 1: Tipos de análise de conteúdo.

Todavia, existem alguns críticas e reparos que podem ser feitos a esta perspetiva. Primeiramente podemos mencionar o peso da subjetividade nas suas análises e conclusões. Seguidamente, a diminuta capacidade de fundamentar as conclusões, no que à sua generalização diz respeito ou da descrição dos fenómenos ao longo do tempo e do espaço (ibidem).

Conforme o que foi referido anteriormente, existem várias modalidades de investigação psicoeducativa. Na Psicologia e na Educação utilizam-se de forma mais frequente três modalidades (Almeida e Freire, 2003):

  1. Quantitativo-experimental (voltada principalmente para a predição e explicação mediante a testagem de teorias e hipóteses);

  2. Quantitativo-correlacional (voltada mais para a compreensão e a predicação dos fenómenos mediante a formulação de hipóteses sobre as relações entre variáveis);

  3. Quantitativa (mais orientada para a compreensão e descrição dos fenómenos globalmente considerados).

Próximo deste último modelo, foram emergindo outras subdivisões como peculiaridades próprias, assentes em objetivos mais específicos. Tomemos como exemplo a designação "investigação-ação" (ibidem).

Referências

Almeida, L. S., & Freire, T. (2003). Metodologia da investigação em psicologia e educação. Braga: Psiquilibrios.

Lukas, J. F., & Santiago, K. (2004). Evaluación educativa. Madrid: Alianza Editoral.

Saber mais

Khan Acedemy (2016, outubro 30). O método científico. [Ficheiro vídeo]. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=vaNSr11yNmY&feature=youtu.be.

Esta publicação deve ser referenciada assim:

Pereira, F. (2017, novembro 25). A investigação científica e os modelos de investigação. [Post em blog]. Disponível em https://fabriciopereiraieul.wixsite.com/omeuapa/single-post/2017/11/25/A-investiga%C3%A7%C3%A3o-cient%C3%ADfica.

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